Em tudo o que fazemos entra o cuidado. Cuidamos do que amamos.
Amamos aquilo de que cuidamos.
Amor e cuidado formam um casal inseparável. Se houver um
divórcio entre eles, um ou outro morre de solidão. O amor e o cuidado
constituem uma arte.
Tudo de o que cuidamos também amamos. E tudo o que amamos, dele
também cuidamos.
Tudo o que vive tem que ser alimentado e sustentado. O mesmo
vale para o amor e para o cuidado. O amor e o cuidado se alimentam da afetuosa
preocupação de um para com o outro.
Todos vivemos dentro de um arranjo existencial que, por sua
própria natureza, é limitado em possibilidades e nos impõe barreiras de toda
ordem, de lugar, de profissão, de inteligência, de saúde, de economia, de
tempo. Há sempre um descompasso entre o desejo e sua realização. E às vezes nos
sentimos impotentes perante dados que não podemos mudar, como a presença de um
bipolar, com seus altos e baixos.
Temos que nos resignar perante essa limitação intransferível.
Nem por isso precisamos viver tristes ou impedidos de crescer.
Ao invés de crescer para fora, podemos crescer para dentro, à medida que
criamos um centro no qual as coisas se unificam, e descobrimos como podemos
aprender de tudo.
Bem dizia a sabedoria oriental: “Se alguém sente profundamente o
outro, este o perceberá mesmo que esteja a milhares de quilômetros de distância”.
É o cuidado que
enlaça todas as coisas; é o cuidado que
traz o céu para dentro da terra e coloca a terra dentro do céu.
É o cuidado que
confere força para buscar a paz no meio dos conflitos de toda a ordem.
Sem o cuidado que
resgata a dignidade da humanidade condenada à exclusão, não se inaugurará um
novo paradigma de convivência.
É o cuidado que
permite a revolução da ternura, ao tornar prioritário o social sobre o
individual e ao orientar o desenvolvimento para a melhoria da qualidade de vida
dos humanos e de outros organismos vivos.
O cuidado faz
surgir o ser humano complexo, sensível, solidário, cordial, conectado com tudo
e com todos no universo.
Tudo o que vive precisa de ser alimentado.
Assim, o cuidado,
a essência da vida humana, precisa também de ser continuamente alimentado.
O cuidado vive
do amor primordial, da ternura, da carícia, da compaixão, da medida justa em
todas as coisas.
Hoje, na crise do projeto humano, sentimos a falta clamorosa
de cuidado em
toda a parte. As suas ressonâncias negativas evidenciam-se pela má qualidade da
vida, pela penalização da maioria empobrecida da humanidade, pela degradação
ecológica e pela exaltação exacerbada da violência.
Não busquemos o caminho da cura fora do ser humano. Que o cuidado aflore em todos os
âmbitos, que penetre na atmosfera humana e que prevaleça em todas as relações! LEONARDO BOFF
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