Olimpíada de Biologia não receberá verbas do CNPq, o que
inviabilizará sua realização em 2014.
Por Thais Paiva
Na contramão dos diversos eventos espalhados pelo País que
incentivam os alunos a participar de testes de conhecimentos em diversas áreas,
a Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB) pode não acontecer em 2014. O Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão que
financiava cerca de 80% do evento, não aprovou a destinação de verbas para a
décima edição da prova. A alegação é de que a prova não é uma prioridade ante
outros projetos.
“Biologia não é prioridade, o que é um absurdo. Logo, não é
de se estranhar que o Brasil esteja tão mal posicionado nos índices
internacionais de educação e ciências, como o Pisa (Programa de Avaliação
Internacional de Alunos)”, afirma Leila Macedo, presidente da Associação
Nacional de Biossegurança (ANBio), entidade sem fins lucrativos que integra a
coordenação da Olimpíada.
Prevista para acontecer entre abril e outubro deste ano, a
Olimpíada Brasileira de Biologia é destinada aos estudantes do Ensino Médio de
escolas públicas e privadas e tem como objetivo fomentar o interesse em
biologia e estreitar a relação entre universidades e escolas. Os dez estudantes
mais bem classificados viajam até o Rio de Janeiro, onde está localizada a
ANBio, para um treinamento prático em laboratórios de universidades parceiras.
O conhecimento é exigido nas Olimpíadas Internacional e Ibero-Americana de
Biologia, que acontecerão este ano na Indonésia e no México, respectivamente.
Nelas, as etapas práticas correspondem a 40% da nota final do aluno.
Em resposta enviada pela Coordenação de Comunicação Social,
o CNPq diz reconhecer a fundamental importância da área de biologia e que a
seleção de propostas de olimpíadas científicas é analisada por um comitê
integrado por pesquisadores especialistas da área de Divulgação e Popularização
da Ciência.
Ainda segundo o comunicado, cada proposta é analisada de
acordo com critérios, tais como qualificação da equipe executora e experiência
na organização de competições similares, abrangência territorial da competição,
maior número de participantes em potencial e possibilidade de inserção dos
vencedores em competições internacionais, além de uma avaliação em comparação
com as demais propostas submetidas.
“No julgamento ocorrido em dezembro de 2013, a proposta da X
Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB) recebeu parecer favorável, ficando na
11ª posição no ranking das propostas recomendadas. No entanto, tendo em vista
limitações orçamentárias, foram apoiadas as oito primeiras colocadas”,
justifica o órgão.
Para Juliana Pacheco, coordenadora de Biologia do Sistema
Elite Rio, os alunos serão os maiores prejudicados caso a OBB 2014 não
aconteça. “O objetivo da olimpíada é aproximá-los do ambiente universitário,
das pesquisas, da parte prática, pois são poucos os colégios brasileiros que
contam com a infraestrutura de laboratórios de Biologia, e a OBB possibilita
esse contato”, explica.
A coordenadora lamenta a falta de investimento, já que
estimula seus alunos a participar da competição. “Levamos a competição bem a
sério. Realizamos um acompanhamento com os estudantes interessados, oferecendo
exercícios focados na provas, entre outras atividades”, conta.
Para esta edição, apenas a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro (Faperj) aprovou o projeto, comprometendo-se a doar 30
mil reais. “Até agora não recebemos nada e não há previsão de quando vamos
receber tal recurso”, diz Leila. Além disso, a quantia auxilia, mas não chega
perto do orçamento necessário para a realização do evento, algo em torno de 200
mil reais. “Isso não dá nem para chegar até o treinamento no Rio e muito menos
para participar da Olimpíada Internacional e da Ibero-Americana. Cada passagem
para a Indonésia custa em torno de 10 mil reais. São quatro alunos competidores
mais dois professores orientadores. Isso sem contar hospedagem e outros gastos.
Portanto, se o CNPq não reverter essa decisão, não teremos a OBB em 2014.”
Para José Carlos Pelielo, professor adjunto do Instituto de
Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj) e integrante da delegação
brasileira nas olimpíadas internacionais, o desempenho dos alunos brasileiros
lá fora tem melhorado a cada ano. Em dez anos de participação, o Brasil
conquistou cerca de 30 medalhas internacionais. “Na última Olimpíada
Internacional de Biologia, realizada na Suíça, o Brasil levou duas medalhas de
bronze e uma de prata, a melhor colocação já conquistada. No ano passado, para
se ter uma ideia, o evento mobilizou a participação de mais de 50 mil alunos”,
conta.
Segundo Pelielo, que também participa da preparação das
provas teóricas e das atividades práticas da OBB, sem o investimento será
impossível realizar o treinamento prático no Rio e participar das competições
internacionais. “É uma pena, pois a olimpíada é um incentivo para trazer alunos
do Ensino Médio para a área de ciências e tecnologia”, afirma.
Para Leila, é difícil compreender a decisão, já que o apoio
para as Olimpíadas de Física, Matemática, Astronomia e Química foi contemplado
pelo órgão. “A Olimpíada de Matemática, para se ter uma ideia, recebe uma verba
na ordem de milhões de reais e o máximo que nós já recebemos foi 150 mil”,
explica.
Ela acredita que há um equívoco diante da importância da
competição. “A Olimpíada possibilita não só o desenvolvimento intelectual do
aluno, como também o incentiva a seguir uma carreira científica no futuro. Isso
tem um impacto direto no desenvolvimento tecnológico e científico do País, pois
são esses adolescentes os profissionais de amanhã. Se não investirmos na área,
estamos fadados a ver esses ‘cérebros’ saírem do País”, afirma.
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