sexta-feira, 17 de julho de 2015

Khalil Gibran: O Amor E alguém disse: Fala-nos do...

O Amor

E alguém disse:
Fala-nos do Amor:

- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem
vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.

Porque assim como o vosso amor
vos engrandece, também deve crucificar-vos
E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais frágeis
que tremem ao sol,
também penetrará até às raízes
sacudindo o seu apego à terra.

Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo
para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.

Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser
o pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer os segredos
do vosso coração,
e por este conhecimento vos tornardes
o coração da Vida.

Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,
o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez
e sair do campo do amor,
a caminho do mundo sem estações,
onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.

O amor não possui
nem quer ser possuído.

Porque o amor basta ao amor.

E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher,
marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.

Mas se amarem e tiverem desejos,
deverão se estes:
Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor,
e sangrar de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.

Voltar a casa ao crepúsculo
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado,
e na boca, um canto de louvor.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

O SENTINDO DO TEXTO EXPOSITVO


Por constar em todos os livros didáticos de todas as áreas do conhecimento, o texto expositivo é frequentemente utilizado por professores e alunos. No dia-a-dia escolar, dentro da escola ou fora dela, os alunos estudam os conteúdos das disciplinas lendo textos e fazendo exercícios do livro didático. Sabemos da função importante desses livros como base científica para auxiliar na interpretação dos textos multidisciplinares como os das revistas e dos jornais (KLEIMAN, 2002, p. 71), mas eles não podem ser a única fonte de estudo do aluno nem a do professor para transmitir e construir saberes. Se a interdisciplinaridade é característica essencial do conhecimento, é fundamental trabalhar os temas usando e comparando diferentes fontes, inserindo outros textos e suportes
– jornais, revistas, fitas gravadas, vídeos, textos da Internet, outros livros – no cotidiano escolar. Um texto puxa outro, na busca incessante do conhecimento.
Há muitas maneiras de abordar um texto expositivo, e isso vai depender, principalmente, dos objetivos da leitura. Se o aluno tem de buscar informações, você pode propor um roteiro de questões. Se o objetivo é estudar o texto, um resumo pode ser uma atividade muito eficaz. O esquema é ótimo para usar em seminários. O importante é deixar claro que o texto didático funciona como ponto de partida para a leitura de outros textos. Ele não esgota um assunto, ao contrário, geralmente tem muitas limitações. Essa postura crítica diante dos textos do livro didático é saudável e tem de ser incentivada. Assim, é necessário pensar formas significativas de abordagens. Temos de pensar atividades que façam o aluno interagir de fato com o texto, indo além da simples memorização de fatos (muitas vezes, desconexos) e das respostas aos questionários algumas vezes mal formulados.
Um modo de abordar o texto expositivo: ler para estudar
Entre as várias possibilidades de leitura, a de estudo e trabalho é a que mais exige disciplina e organização. Estudar de um modo geral significa saber aplicar estratégias. É incrível, mas os alunos passam pela escola sem que alguém os ensine como se estuda. Raros são os professores que se preocupam com essa questão. Raríssimos são os que ensinam o aluno a tomar notas, a produzir roteiros, a fazer fichamentos e resumos. Curiosamente, no entanto, essas são tarefas muito solicitadas no dia-a-dia escolar. O texto que leremos a seguir, “O trabalho dos lexicógrafos”, é expositivo. A abordagem que propomos servirá para trabalhar um modo de leitura: ler para estudar. Vale lembrar que, para exercitar esse modo, o aluno precisa saber fazer marcas no texto, comentários de margem, recortes e seleção de fragmentos, esquemas, resumos, tabelas e quadros.
Objetivos da leitura
• Ler um texto em profundidade.
• Aprender a fazer resumos.
Antes da leitura
• Antes de iniciar a leitura de um texto expositivo, é importante fazer perguntas aos alunos sobre o tema de que se vai tratar. No caso do texto que leremos, é fundamental saber se eles têm o hábito de consultar o dicionário; em que momentos costumam fazê-lo; se costumam consultá-lo para saber a grafia correta da palavra; se têm idéia de quantas palavras há em um dicionário grande; se sabem da existência de tipos de dicionários etc.

• Depois dessa conversa inicial, você pode apresentar aos alunos o título do texto que vai ser lido. Será que alguém sabe o significado da palavra “lexicógrafo”?
Sem saber esse significado, é possível antecipar alguma idéia do texto?
• Consultando o dicionário, os alunos saberão que lexicógrafo é autor de dicionário, dicionarista. Depois de entenderem o sentido, vai ser possível criar expectativas e iniciar a leitura silenciosa.
O trabalho dos lexicógrafos
Os dicionários contribuem de várias maneiras para fixar a língua: por um lado, eles são referência para a ortografia das palavras – um problema que se tornou inescapável desde que os dicionários optaram pela ordem alfabética (a ordem alfabética, lembre-se, é apenas um dos princípios que podem ser usados para organizar a macroestrutura de um dicionário, e esse princípio começou a ser utilizado relativamente tarde); por outro lado, eles têm funcionado como uma espécie de registro civil de todas as palavras; a publicação de um bom dicionário sempre desperta as reações de críticos que apontam erros e lacunas, mas também provoca no público-leitor outra reação, que é em última análise de adesão – a de não usar palavras que não tenham sido dicionarizadas: muitos profissionais da linguagem, ao invés de usar um neologismo mais apropriado, optam sistematicamente por uma expressão menos adequada, mas antiga e registrada no dicionário. Outro fator de normalização, no dicionário, é a prática da abonação. Ao longo do tempo, os dicionários foram fixando o hábito de associar às várias acepções de cada palavra um ou mais exemplos. Independentemente de serem fabricadas pelo próprio dicionarista, recolhidas em escritores ou encontradas no uso corrente da língua, essas abonações consagram os usos a que se referem e fornecem modelos de construção sintática. A história da lexicologia do português é longa e rica e mostra uma participação notável de autores brasileiros. Como seria de esperar, dadas as condições culturais do Brasil-Colônia (onde era proibido o funcionamento de tipografias), os primeiros trabalhos de lexicografia do português – o Dicionário português e latino (1712-1728), do padre Rafael Bluteau, o Dicionário (1789), de António de Morais e Silva, o Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram (1789), de Souza Viterbo, e o Novo dicionário crítico e etimológico (1836), de Constâncio – foram todos publicados na Europa. Contudo, António de Morais e Silva, cuja obra (2. ed. 1813) colocou a lexicologia portuguesa em sintonia com a melhor lexicologia da época, era brasileiro. No século XIX, os intelectuais brasileiros tiveram freqüentemente a preocupação de colecionar brasileirismos, para complementar os dicionários portugueses existentes; é esse o caso do Vocabulário brasileiro para servir de complemento aos dicionários da língua portuguesa, de Brás da Costa Rubim (1853), e do Dicionário de brasileirismos, de Rodolfo Garcia (1915). Os primeiros dicionários ‘completos’ do português brasileiro só apareceram por volta de 1950. Pertencem a esse período, entre outros, o Dicionário básico do português do Brasil (1949), de Antenor Nascentes, preparado inicialmente para servir de minuta do futuro Dicionário da Academia Brasileira de Letras (que nunca chegou a ser publicado), e o Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa, que teve várias edições e que, a partir da 11ª, de 1972, passou a contar com a supervisão de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Autor de duas edições do Novo dicionário da língua portuguesa (1975 e 1986), Aurélio Buarque de Holanda tornou-se tão célebre como dicionarista que seu prenome passou a ser sinônimo de ‘dicionário’ (procure no ‘aurélio’ ou procure num ‘aurélio’). Os grandes dicionários de referência para o português do Brasil são hoje três: o Novo Aurélio do século xxi (2000), o Dicionário Houaiss da língua portuguesa (2001) e o Dicionário de usos do português do Brasil (2002), de Francisco da Silva Borba (mais conhecido pela sigla dup). Trata-se de obras diferentes, não só por suas dimensões e complexidade, mas também por sua concepção. O Houaiss e o Novo Aurélio do século xxi são obras de filólogos, e sua preocupação é registrar o vocabulário do português brasileiro em toda a sua riqueza – considerando em um mesmo pé de igualdade os usos mais antigos e os mais recentes, os mais freqüentes e os mais raros. Além de dar as informações usuais (classe gramatical, sentido, sinônimos etc.), esses dicionários procuram reconstituir a história das palavras e atestar suas ocorrências mais antigas, tornando-se assim instrumentos de utilidade nos estudos históricos ou etimológicos. Ao contrário, o dup preocupa-se em ser uma imagem da língua viva de hoje. Contra os 228.500 verbetes do Houaiss e os 160 mil do Aurélio, o dup apresenta um total de ‘apenas’ 62.800; mas todas as palavras que ele traz são de uso frequente (e atestado) nas últimas décadas. É a isso que o autor, o lingüista Francisco da Silva quis referir-se ao intitular essa obra ‘dicionário de usos’. Existe, evidentemente, em Portugal, toda uma tradição lexicográfica autenticamente portuguesa, que foi magistralmente descrita em Vedelho (1994); aos estudantes e estudiosos brasileiros interessa conhecer pelo menos o Dicionário da língua portuguesa contemporânea, publicado em 2001 pela Academia das Ciências de Lisboa.”
(BASSO e ILARI, 2006, p. 203-5.)
Durante a leitura
• Quando os alunos terminarem de ler, recomendamos fazer uma leitura compartilhada, para esclarecer passagens difíceis e construir o sentido global do texto.
No primeiro e no segundo parágrafos, por exemplo, os autores apresentam três maneiras de o dicionário fixar a língua: referência para a ortografia das palavras, registro civil de todas palavras, prática da abonação. É fundamental associar essas maneiras apresentadas ao uso que os alunos fazem do dicionário. Pergunte à turma o que entendem por “fixar a língua”?
• Peça aos alunos que observem, no primeiro parágrafo, o uso do travessão e dos parênteses. É importante que percebam que os autores lançaram mão desses recursos para inserir informações que consideram relevantes, que completam a idéia: os dicionários “são referência para a ortografia das palavras”. Repare que a informação que vem separada pelo travessão tem ênfase maior do que a que vem entre os parênteses. Faça o exercício de ler o parágrafo omitindo primeiro o que vem entre parênteses; depois o que vem destacado pelo travessão e pelos parênteses. Depois dessa leitura, os alunos perceberão que a idéia principal continua intacta.
• Além de “lexicógrafo”, há outras palavras-chave que precisam ser investigadas, de preferência com o uso do dicionário: abonação, filólogos, neologismos, lexicologia.
• Os parágrafos 3 e 4 apresentam um relato histórico da lexicologia do português.
É importante contar aos alunos o valor que têm os dicionários antigos. Como a acepção das palavras vai mudando, consultá-los é a melhor maneira de resgatar os significados em poemas barrocos e renascentistas. Isso nos coloca mais próximos dos autores antigos. Observe também o uso do travessão no parágrafo 3.
• Outra informação interessante que merece ser destacada refere-se ao dicionário de Aurélio Buarque de Holanda. Os alunos vão gostar de saber por que “aurélio” é sinônimo de dicionário.
• Os últimos parágrafos trazem várias informações interessantes, que podem ser destacadas: quais os dicionários de referência para o português do Brasil; acentuar a diferença entre eles; o número de verbetes de cada dicionário.
Depois da leitura
• Várias atividades poderiam ser realizadas depois da leitura. Por meio de perguntas, você poderia aprofundar a leitura do texto. Na segunda linha do primeiro parágrafo, lemos: “eles são referência para a ortografia das palavras – um problema que se tornou inescapável...”. Também no primeiro parágrafo: “muitos profissionais da linguagem, ao invés de usar um neologismo mais apropriado, optam sistematicamente por uma expressão menos adequada, mas antiga e registrada no dicionário”. O dicionário pode ser um problema? Pode conter erros e lacunas? O autor deixa transparecer sua opinião?
• Também é possível trabalhar os processos de formação de palavras. No texto encontramos: “lexicógrafos”, “lexicologia”, “lexicográfica”. Qual a diferença de sentidos entre essas palavras? Qual a raiz delas? Etc.
• O texto também poderia ser resumido. O resumo tem de apresentar os pontos essenciais, mantendo fidelidade ao pensamento do autor. Para elaborá-lo é fundamental que os alunos tenham idéia do conteúdo global do texto. “O trabalho dos lexicógrafos” tem 7 parágrafos. Peça aos alunos que numerem os parágrafos e ajude-os a perceber que o texto pode ser dividido em três partes: a primeira, parágrafos 1 e 2; a segunda, parágrafos 3 e 4; a terceira, parágrafos 5, 6 e 7. Cada parte agrupa um tipo de informação. A primeira mostra as maneiras como os dicionários fixam as línguas; a segunda conta como foi a história dos primeiros dicionários de referência para o português do Brasil; a terceira parte trata dos dicionários de referência para o português do Brasil de hoje. Essa é a maneira como o autor estruturou o texto, essa será a maneira como o aluno estruturará o resumo. Você pode sugerir que ele comece assim: O texto “O trabalho dos lexicógrafos”, de Rodolfo Ilari e Renato Basso, trata [o aluno poderia completar: de dicionários e dicionaristas]. Ele pode ser dividido em três partes. Na primeira (parágrafos 1 e 2), os autores apresentam três motivos para os dicionários fixarem a língua”: [os alunos poderiam completar transcrevendo do texto os três motivos: a) são referência para a ortografia das palavras, b) funcionam como uma espécie de registro civil de todas as palavras e c) praticam a abonação (hábito de associar às várias acepções de cada palavra um ou mais exemplos]. Na segunda parte, os autores apresentam uma curta história da lexicologia do português, destacando [os alunos poderiam completar: a participação de autores brasileiros]. Além dos títulos dos primeiros trabalhos de lexicografia, os autores afirmam que somente no século XIX [os alunos poderiam completar: os brasileirismos passaram a complementar os dicionários portugueses existentes]. Em 1950 [os alunos completariam: apareceram os primeiros dicionários “completos” do português brasileiro]. Em 1972... Assim por diante. É possível montar a estrutura do resumo fazendo os alunos retirarem as informações essenciais do texto.

• Dessa forma, você mostra aos estudantes como construir um modelo de resumo. A mesma estratégia pode ser repetida com outros textos expositivos. Pouco a pouco o aluno ficará confiante e não precisará mais de modelos para resumir textos